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terça-feira, 13 de setembro de 2011

Entre a psicologia e o esporte: as matrizes teóricas da psicologia e sua aplicação ao Esporte

Resumo
O crescente interesse pela prática da Psicologia do Esporte tem transferido a discussão sobre seus fundamentos teóricos para um plano secundário. Neste ensaio buscou-se percorrer parte da trajetória da Psicologia do Esporte, mais especificamente nas últimas 4 décadas, em busca dos conceitos e referenciais teóricos que sustentam, na atualidade, o pensamento e a prática de profissionais envolvidos com a área, para um entendimento da circunscrição do campo de atuação. Para tanto são discutidas questões como a alocação da Psicologia do Esporte enquanto sub-área das Ciências do Esporte e/ou especialidade da Psicologia e ainda as transformações ocorridas no esporte contemporâneo e seus desdobramentos relacionados ao fenômeno esportivo, meio e finalidade da prática da Psicologia do Esporte.
Palavras chave: psicologia do esporte; ciências do esporte; psicologia; esporte; olimpismo.
Considerações Gerais
Para que se desvende uma teoria é necessário conhecer mais que as publicações científicas. É preciso a compreensão de seu contexto histórico e desdobramentos do que num momento foi ‘linha’, no sentido de se tornar uma referência de estudos, e depois se tornou ‘crítica’, por apresentar os elementos necessários para uma reflexão e sua re-elaboração.
Em cada uma das fases descritas, pesquisadores partiram de objetos de estudo da Psicologia para produzir um conhecimento próprio da Psicologia do Esporte (personalidade, motivação, traço, facilitação social, assertividade). O resultado desses esforços culminou em teorias e métodos inacabados por não abarcarem de maneira integral o sujeito ou o fenômeno estudado, levando esses pesquisadores a abandonarem a área de investigação ou a metodologia adotada em busca de novos objetos e objetivos de pesquisa. Esse padrão histórico tem contribuído para que vários programas de pesquisa apresentem dificuldade em se manter produtivos, dificultando a criação de um referencial teórico amplo para a área, atrasando o avanço e o crescimento da Psicologia do Esporte.
Ao longo de um século de vida a Psicologia do Esporte já conta com um volume considerável de conhecimento produzido e com uma dúvida que paira sobre psicólogos e estudioso da área: afinal a Psicologia do Esporte é uma sub-área das Ciências do Esporte ou especialidade da Psicologia? Ao que tudo indica a resposta a essa pergunta ainda está longe de ser dada. Os estudiosos envolvidos com o ensino e a pesquisa tenderão a responder que pertence à primeira enquanto que psicólogos afirmarão que pertence à segunda. Reserva de mercado, embates ideológicos e escolhas acadêmicas influenciarão diretamente essa resposta, que pouco contribuirá para seu desenvolvimento.
A proposta dessa revisão foi olhar para a Psicologia do Esporte e ver como se deu o movimento de construção teórica de uma área que nasceu par e passo com a fisiologia e o comportamento motor e foi se aproximando do comportamento humano e da psicodinâmica ao longo de um século.
Ao observarmos atentamente o movimento ocorrido nos últimos 40 anos poderemos perceber que a Psicologia do Esporte acompanhou de perto a dinâmica ocorrida na Psicologia Geral, ou seja, o objeto de estudo foi o ser humano, seu comportamento e subjetividade, no contexto esportivo ou de atividade física. No entanto, a forma de se analisar esse fenômeno seguiu de perto os caminhos e influências ditados pela Psicologia Geral, independente do país onde essa produção ocorreu.
Não queremos, com isso, afirmar que essa área ande no encalço de uma ‘ciência mãe’ e que isso signifique a reprodução de um modelo pronto e consagrado. Arriscaríamos isso sim, afirmar que a Psicologia do Esporte vem confirmar a necessidade de ampliação de fronteiras para a compreensão da complexidade humana, no contexto esportivo. Tanto isso ocorre que ao nos depararmos com alguns artigos referentes a modalidades esportivas coletivas ou grupos onde se pratica atividade física perguntamos se aquela análise é psicológica ou sociológica, se as reflexões sobre a gênese do movimento intencional são da antropologia ou da filosofia ou se o estudo de uma disfunção orgânica é do âmbito da medicina ou da fisiologia do esporte.
Acredito que em um momento onde os esforços se concentram na busca daquilo que nos unifica – as nações, os interesses econômicos, as proximidades culturais - definir as fronteiras uma área estaticamente seria caminhar na contramão da história. É fato que o corporativismo é uma forte motivação (quase arriscaria dizer que é motivação intrínseca) para a demarcação dessas fronteiras e também um grande impedimento para o avanço das discussões. Por isso tentamos passar ao largo dele e nos ater às questões acadêmicas.
Grande parte da literatura aponta que o futuro reside na interface entre as várias áreas de conhecimento que buscam compreender o fenômeno humano a partir de sua complexidade, interface essa que permite à Psicologia do Esporte estudar o indivíduo no contexto esportivo e da atividade física tanto nos aspectos que remetem ao fenômeno da subjetividade como das relações sociais, respeitando as diferenças teóricas, porém exigindo rigor metodológico.
Fonte
Temas em Psicologia da SBP—2004, Vol. 12, no 2, 93– 104
Entre a psicologia e o esporte: as matrizes teóricas da psicologia e sua aplicação ao esporte
Katia Rubio
Universidade de São Paulo

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