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quarta-feira, 19 de março de 2014

Alcoolismo em transtorno bipolar

A alta prevalência de uso de substâncias psicoativas em pacientes com transtornos psiquiátricas tem recebido atenção cada vez maior por parte dos pesquisadores.
Transtorno Bipolar e Alcoolismo são doenças familiares com fatores genéticos implicados na sua etiologia. A relação genético-familiar entre ambas é controversa e tem sido estudado de forma insuficiente. Nos últimos anos, inúmeros pesquisadores tem demonstrado interesse crescente e destacado a relação entre Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo, num espectro muito mais amplo que uma simples comorbidade entre duas patologias psiquiátricas de importância no contexto social.
O Alcoolismo tem se mostrado mais comum na população de pacientes com Transtorno de Humor Bipolar (THB) do que na população em geral. Estudos genéticos em famílias desses pacientes podem identificar causas de excesso de comorbidade entre as duas patologias.
O termo comorbidade neste trabalho relaciona-se ao cálculo feito para avaliar-se a chance de duas patologias ocorrerem ao mesmo tempo em um mesmo indivíduo a partir das prevalências em separado. Sendo assim, o chamado excesso de comorbidade caracteriza uma associação (concomitância) de prevalências mais freqüentes do que a esperada em separado, destacando neste trabalho a associação entre Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo.
Recentes estudos epidemiológicos tem mostrado convincentemente que os diagnósticos de Transtorno Bipolar e Alcoolismo ocorrem mais freqüentemente juntos do que o esperado pela chance. Por exemplo, o ECA, Epidemiological Catchment Area Study (Regier et al 90), relatou em estudo multicêntrico uma taxa alta de comorbidade entre Transtorno Bipolar e Alcoolismo com Odds ratio de 6.2, destacando que o THB é a patologia de Eixo I mais associada com Alcoolismo.
As razões para esta alta prevalência de comorbidade permanecem obscuras.
Maier (1996) em seu trabalho, mostra prevalência de 8,3% para Dependência ao Álcool. Entre os pacientes com Transtorno de Humor Bipolar, 40,6% (Odds Ratio 5.6) apresentaram Abuso ou Dependência ao Álcool. A análise das características da co-ocorrência e co-transmissão do Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo em famílias pode prover dados para o entendimento da alta comorbidade entre estas duas patologias na população geral, mostrando que estas representam a comorbidade mais prevalente entre os diagnósticos psiquiátricos de eixo I (CID-10 e DSM-IV).
"Compartilhar fatores de risco familiar" inclui alta prevalência de Alcoolismo em familiares de pacientes bipolares "puros", além da presença concomitante de Transtorno Bipolar e Alcoolismo em familiares de pacientes com ambas as patologias. Seu pior curso e prognóstico em relação aos diagnósticos em separado parece estar relacionado `a identificação unicamente do diagnóstico primário, deixando de atender o diagnóstico secundário, que se não prevenido e tratado adequadamente, desenvolve novo ciclo da doença (Ex: Episódio maníaco desencadeando aumento da ingesta alcoólica).
Winokur et al (1967), num estudo pequeno, sem grupo-controle encontraram maior prevalência de Alcoolismo em familiares de primeiro grau de pacientes com transtorno de Humor Bipolar, especialmente nos casos de início precoce da doença afetiva.
O trabalho de Strakowski (1992) avaliou outros diagnósticos psiquiátricos em quarenta e um pacientes hospitalizados pela primeira vez devido a episódio maníaco, e encontrou 24,4% dos pacientes internados no primeiro episódio por mania com diagnóstico de abuso ou dependência ao álcool, sendo esta a maior comorbidade psiquiátrica encontrada neste estudo.
Weiss (1987) hipotetiza que pacientes bipolares usam substâncias psicoativas com o intuito de auto-medicação de seus sintomas de humor e que o abuso e dependência ao álcool pode precipitar ou perpetuar episódios de humor.
Brady (1992), relacionando o curso da doença em pacientes com Transtorno Bipolar e Alcoolismo com outros somente apresentando Transtorno Bipolar verificou um pior curso, com sintomas mais proeminentes nos pacientes com Transtorno Bipolar e Alcoolismo, demonstrando a influência negativa do abuso de substâncias psicoativas, neste caso o álcool, no curso e prognóstico do Transtorno Bipolar. Também mostrou que pacientes que apresentam concomitantemente o Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo, apresentam melhor resposta terapêutica ao uso de anticonvulsivantes em relação ao Lítio, provavelmente relacionado ao efeito GABAérgico. Este fato levanta a hipótese de que o álcool, por meio deste mesmo efeito GABAérgico apenas inicial, venha sendo usado para fins "terapêuticos" em pacientes Bipolares, com resultados posteriores desastrosos no tocante ao prognóstico. Este trabalho sugere a existência de uma forma independente de transmissão entre o Transtorno Bipolar e o Alcoolismo.
Reich (1974) mostrou que 31% dos pacientes identificados com Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo bebiam excessivamente, em maior quantidade na mania, para acalmarem-se. Uma maior prevalência de Alcoolismo em pacientes com Transtorno de Humor Bipolar e seus familiares e vice-versa pode corroborar a possibilidade de um envolvimento genético comum entre estas duas patologias, com potencial futuro para identificação de um diagnóstico único (por Ex: Agorafobia com ou sem Pânico).
Winokur et al (1993) coloca que a taxa de Alcoolismo em pacientes com Transtorno de Humor Bipolar pode estar relacionada ao aumento da ingesta alcoólica em pacientes durante os episódios maníacos, que o Alcoolismo pode ser um fator predisponente a Mania ou que Alcoolismo e Mania são expressões iguais de um mesmo fator genético.
Winokur et al (1995) em estudo prospectivo de 5 anos, amplo, criterioso e multidirecional com mais de 200 bipolares com e sem alcoolismo (2 grupos) e seus familiares concluiu que a relação familiar entre Transtorno Bipolar e Alcoolismo é mais forte que entre Depressão Maior e Alcoolismo, não explicado pela simples prevalência destas patologias. O trabalho conclui demonstrando uma pequena correlação entre componentes familiares de pacientes Bipolares e Alcoolistas. Os familiares de pacientes com Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo concomitantemente (BIPALCO) apresentaram maior prevalência de Transtorno de Humor Bipolar comparados com Bipolares "puro", Alcoolistas e grupo controle. Os autores expressam que BIPALCO seria uma entidade nosológica `a parte e não a presença de duas patologias separadamente, como simples comorbidade. Os autores referem que durante um episódio maníaco há aumento do consumo de álcool em 40% dos casos. Reiteram como possíveis bases etiológicas para a excessiva comorbidade entre Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo as seguintes hipóteses:
Que o problema primário, segundo cronologia de início anterior (poucos casos segundo gravidade) é o Transtorno de Humor Bipolar e que o Alcoolismo seria secundário, hipótese esta sugerida pelos autores.
Que o Transtorno de Humor Bipolar e o Alcoolismo sejam apenas uma real comorbidade, uma mera coincidência. Consideram improvável, pois a associação tem mostrado muito maior freqüência que a possibilidade de chances em separado. Além disso consideram que o Alcoolismo a nível de sistema nervoso central pode induzir Mania não como causa única, mas multifatorial, incluindo dano cerebral.

Consideram o Transtorno de Humor Bipolar transmitido com uma base genética poligênica e que os fatores genéticos envolvidos no Alcoolismo são compartilhados e predispõem ao aparecimento do THB. Encontraram em relação aos pacientes com Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo, que seus familiares de primeiro grau com Transtorno Bipolar apresentaram maior taxa de Alcoolismo que parentes de Bipolares sem Alcoolismo, enfatizando a base etiológica poligênica. Concluem a partir da observação, que o Alcoolismo secundário em pacientes bipolares é mais propenso a remitir que Alcoolismo primário e vice-versa, enfatizando a relação primário-secundário relacionado a remissão de sintomas e conseqüente prognóstico. Esta idéia é corroborada neste artigo pelo achado de um menor número de episódios de humor em pacientes com Alcoolismo primário comparado com THB como patologia primária.

Torna-se de suma importância diferenciar, embora algumas vezes difícil, entre quadro primário de Transtorno de Humor Bipolar e secundário de Alcoolismo ou vice-versa. Isto justifica-se pelo fato do Transtorno de Humor Bipolar ser importante fator de risco para dependência química, poder modificar o curso do Alcoolismo, além de seus sintomas poderem emergir da intoxicação.
Outros autores sugerem em trabalho controlado com metodologia bem delineada que o Alcoolismo familiar pode contribuir para a vulnerabilidade ao Transtorno Bipolar e que existe hereditariedade compartilhada entre as duas patologias através de maior taxa de Alcoolismo em familiares do grupo de pacientes com Transtorno Bipolar e Alcoolismo (BIPALCO) comparado ao grupo somente com Transtorno Bipolar e grupo controle Winokur et al (1996).
Brady et al (1995) concluíram que o Transtorno de Humor Bipolar associado ao Alcoolismo apresenta início mais precoce e pior curso comparado ao Transtorno Bipolar sem Alcoolismo, além de apresentar-se mais freqüentemente com humor irritável e disfórico, maior tendência a quadros mistos e ciclagem rápida, bem como maior número de internações. Todos estes aspectos presentes predizem má evolução prospectiva do quadro. Enfatizam que a relação entre Transtorno de Humor Bipolar e Alcoolismo não baseia-se simplesmente em causa e efeito, é bidirecional e complexa. Coloca a necessidade de abstinência ao álcool para real identificação e confirmação de quadro de humor primário, já que a redução dos sintomas depressivos devido ao álcool ocorre somente 2 a 4 semanas após interromper o uso do álcool e para os sintomas maníacos, em média de 2 a 3 dias.
A identificação de fatores familiares relacionados a estas duas patologias de extrema importância em saúde pública torna-se fundamental em nível de prevenção e tratamento, principalmente porque a alta freqüência de aparecimento concomitante destes dois transtornos reforça a necessidade de um programa integrado de prevenção e tratamento em conjunto quando identificados de tal forma.

Autor Rodrigo Machado Vieira** Supervisor do Serviço de Psiquiatria-Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre.

Bibliografia
Brady K, Lydiard B: Bipolar Affective Disorder and Substance Abuse. J Clin Psychopharmacology 1992; 12suppl: 17s-22s.
Brady K, Sonne P. The Relationship Beetween Substance Abuse and Bipolar Disorder. J Clin Psychiatry 1995; 56(suppl 3): 19-24.
Maier W, Merikangas K. Co-ocurrence and Cotransmission of Affective Disorders and Alcoholism in Families. British J of Psychiatry 1996, 168 (suppl 30): 93-100.
Regier DA, Farmer ME, Rae DS, Locke BZ, Keith SJ, Judd LL, Goodwin FK. Comorbidity of Mental Disorders with Alcohol and other Drug Abuse: results from Epidemiologic Catchment Area (ECA) Study. JAMA 1990; 264: 2511-2518.
Strakowsky S, Tohen M, Stool A, Faedda G, Goodwin D. Comorbidity in Mania at First Hospitalization. Am J Psychiatry 1992, 149: 554-556.
Weiss RD, Mirin SM: Substance Abuse as an Attempt at Self Medication. Psychiatr Med 1987; 3: 357-367.
Winokur G, Clayton P. Family History Studies: II. Sex Dififferences and Alcoholism in Primary Affective Disorder. Br J Psychiatry 1967; 113: 973-979.
Winokur G, Coryell W, Akiskal H, Maser J, Keller M, Endicott J, Mueller T. Alcoholism in Manic Depressive (Bipolar) Ilness: Familial Ilness, Course of Ilness, and the Primary-Secondary Distinction. Am J Psychiatry 1995; 152: 365-372.
Winokur G, Coryell W, Endicott J, Akiskal H. Further Distinctions Between Manic-Depressive Illness and Primary Depressive Disorder. Am J Psychiatry 1993; 150: 1176-1181.
Winokur, Akiskal H ,Coryell W, Endicott J, Keller M, , Solomon D. Familial Alcoholism in Manic-Depressive (Bipolar) Disease. Am J Med Genet 1996; 67; 2: 197-201.




2 comentários:

patricia orestes disse...

Olá. Meu companheiro é alcóolico e dependente químico (cocaína) e já foi internado diversas vezes. Após as internações mantém-se limpo, frequentando grupos de apoio (AA e NA) por alguns meses e depois recai e volta à ativa,até chegar novamente ao "fundo do poço", num ciclo que parece sem fim.Agora ele está de novo muito mal e procurou uma psiquiatra que o diagnosticou como bipolar, recomendando uma série de medicamentos, o que me pareceu um tanto descuidado em se tratando de um adicto - fato é que ele passou 2 semanas completamente bêbado, drogado, tomou todos os comprimidos com álcool, chegou até a cheirar alguns. É uma doença horrenda e pra qual pouca atenção se dá. Vamos tentar a inscrição no programa de esportes do Cepê, quem sabe...

Eliane Jany Barbanti disse...

Olá querida, entendo seu sofrimento.
Mas não se esqueça que v/c tb precisa de ajuda. Conviver com adictos torna as pessaoas ao seu redor dependentes TB, porém não de drogas mas dos adictos.
O programa do Cepe funciona se ele estiver em recuperação e tiver vontade de se manter assim.
Só desta forma poderemos ajudá-lo.
Desejo-lhe muita força com o Senhor.
Bjs
Eliane

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